Crime contra a natureza – Meixão
O Comando Metropolitano
da Polícia de Segurança Pública de Lisboa, através da Divisão de Segurança
Aeroportuária em conjugação de esforços com a Brigada de Proteção Ambiental e o
Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas, realizou no dia de hoje,
7 de Janeiro, pelas 11h30, uma operação policial, que culminou na detenção de
quatro homens, com idades compreendidas entre os 38 e os 50 anos, pela prática
de crime contra a natureza e a apreensão de 104.38 quilogramas de meixão vivo -
enguia europeia na fase larvar, uma espécie protegida pela Convenção sobre o
Comércio Internacional das Espécies de Fauna e Flora Selvagens Ameaçadas de
Extinção (CITES).
Os indivíduos estavam a
ser monitorizados e aquando da sua chegada á área de partidas deste aeroporto foram
reconciliados com doze bagagens que processavam no balcão de check-in da companhia aérea para um voo
que tinha como destino final um país asiático. Foram então intercetados e
conduzidos para as instalações policiais onde se consolidou a expectativa dos
profissionais de polícia e se verificou que o meixão estava acondicionado nas
referidas malas de viagem, normais, que seriam transportadas por passageiros
que não são mais do que correios pagos para o efeito. Uma vez que é
determinante que o meixão chegue vivo ao destino, os arguidos garantem que as
enguias bebé vão acondicionadas em água e protegidas com películas térmicas, de
forma a permitir que a temperatura se mantenha estável durante todo o percurso
da viagem.
O meixão, de acordo com
informação técnica precedente do ICNF, constitui uma das fases de
desenvolvimento do complexo e longo ciclo de vida da enguia europeia, de nome
científico Anguilla anguilla, o qual tem o seu início e fim no Mar dos
Sargaços, no Atlântico Norte, junto à costa americana, onde decorre a
reprodução desta espécie.
Em Portugal, a captura
de meixão apenas é possível no Rio Minho, estando sujeita a forte
regulamentação pela legislação das pescas, nomeadamente registo dos pescadores
locais na Capitania do Porto de Caminha ao abrigo do Decreto-Lei 8/2088, de 9
de Abril (Regulamento da Pesca no Troço Internacional do Rio Minho).
Complementarmente, a detenção e comercialização subsequentes dependem ainda de
certificado comunitário, emitido pelo ICNF, na qualidade de autoridade administrativa
CITES.
Uma vez no destino, o meixão tem, sobretudo,
dois aproveitamentos: o culinário, em pratos gourmet apreciados, onde os
restaurantes chegam a pagar 20 mil euros por quilo; e a criação de enguias, a
partir destas enguias-bebé contrabandeadas. Os criadores pagam milhares de
euros por quilo aos traficantes, mas usam-no para mais do que um negócio. O
meixão é, ainda, libertado em arrozais, onde cresce e engorda comendo os
parasitas daquelas culturas. Dessa forma, não só ajuda na produção de arroz,
como acaba – já em fase adulta – por ser comercializado em toda a Ásia e até
exportado de volta para a Europa.
O valor aproximado da apreensão estima-se, na fase de
destino do seu no ciclo económico, ou seja no recetor final asiático, em
aproximadamente 700 000 euros.
O destino do meixão foi o Rio Tejo onde foi devolvido ao
seu habitat natural. Os detidos serão presentes a juízo no dia de hoje.
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